quinta-feira, 15 de novembro de 2018 1 comentários

Você é o tempo



O que mais poderia acontecer,
Se nada foi planejado,
Se nada foi revelado,
Se tudo se dissolveu no silêncio dos dias?

Não gritamos para que todos ouvissem,
Não gritamos nem para nós mesmos.

E agora?
O que mais poderia nos acontecer,
Se o futuro foi deixado ao acaso,
Se o amor que corre em nossas veias
É feroz, mas calado,
E se perde na espera vã
Das promessas que sussurram: vai passar...?

Onde se encontra a definição perfeita?
Na solidez das certezas?
Ou na hesitação dos passos
Que evitamos dar?

O tempo é um nó apertado,
Um fio invisível que nos prende e nos solta,
Que se refaz e se desfaz,
Sem alívio, sem descanso.

Como arrancar de ti o que já foi escrito?
Como desatar as palavras que se moldaram em tua pele?
Elas foram cravadas como ferro em brasa,
Tatuadas no silêncio,
Gravadas naquilo que não se pode esquecer.

O tempo é um impostor.
Ele vive dentro de nós,
Nos move, nos traça,
Nos reduz a fragmentos dispersos,
E, por fim,
Nos apaga.

Seria fácil dizer que esquecer é o caminho.
Mas quem pode apagar o que foi vivido?
Lamentar já não faz sentido.
Tudo passou.

Tudo virou um instante suspenso,
Um paradoxo sem forma,
Onde o querer se desdobra
Entre o que já não pode ser
E o que sempre quisemos que fosse.

Somos feitos desses vazios,
Dessas certezas que queimam o peito,
Que machucam o silêncio
E, ainda assim,
Nos fazem desejar cada detalhe.

Você é esse detalhe.
O encaixe que sempre faltou,
O traço exato,
A peça ausente em todas as histórias.

Você é, você é, você é...
O tempo.
O reflexo da espera.
O peso das horas.
A eternidade comprimida num instante.

Você é.

Você é o tempo.

Weverton Nelluty

 
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